DROGAS E SUA DINÂMICA NO OLHAR DO AUTOGERENCIAMENTO VIVENCIAL

DROGAS E SUA DINÂMICA NO OLHAR DO AUTOGERENCIAMENTO VIVENCIAL

10 de agosto de 2020 Off Por Claudio Lima

“Se as drogas pudessem apagar ou mudar os nossos pensamentos, sem alterar a nossa consciência, seriam uma dádiva para o mundo psicológico”.

Como impedir que as pessoas se droguem? Qual será a solução para esse problema? Está numa criminalização mais severa ou numa total descriminalização? Está na criação de regras que não impeçam o uso, mas que, por outro lado, estabeleçam certas limitações e responsabilidades?

Infelizmente, até agora, a solução que é praticada pela nossa sociedade não tem resolvido de forma satisfatória esse problema. Ou seja, o raciocínio de que quanto mais atuante for a repressão menor será o consumo de drogas, não tem convencido ninguém. Por quê? Nesse caso, a droga é vista como a única vilã e precisa, portanto, ser encarcerada para não viciar ninguém.

Olhemos agora o problema de outro ângulo. Será que o aumento do uso de drogas é devido às “novas” exigências sociais que estão gerando frustrações e insatisfações nas pessoas?

Isso não quer dizer que só as pessoas insatisfeitas usam drogas. De modo algum. A História da humanidade está aí para confirmar: antes se drogava para sobrepor ao medo, para entrar em sintonia com o mundo espiritual, para festejar conquistas etc. O ato de se drogar sempre fez parte da humanidade. Os motivos, as formas e as frequências é que estão se diferenciando com as transformações sociais.

Hoje em dia, muita gente sente a necessidade de buscar “algo externo”, novos elementos instigadores, que aliviem as suas angústias, seus sofrimentos, suas frustrações, seus desprazeres etc. Com isso, a droga, por causa de seus efeitos, se tornou um meio de se chegar a momentos mais agradáveis sem muitas exigências e complicações. Sem precisar fazer qualquer reflexão sobre a própria vida. O que é deveras preocupante! Porque tal uso com o tempo afeta muito a vida das pessoas.

Existem diversos caminhos para lidar com as carências, as necessidades, as dores e os vazios existenciais. Uns buscam no permitido, outros no proibido. Uns na religião, outros em si mesmos. Uns nas drogas lícitas e outros, nas ilícitas. Há sempre, por parte das pessoas, a busca por alguma coisa que as alivie de suas angústias e sofrimentos, mesmo que provoque a sua autodestruição, ao viver alguns momentos de alívio.

Depende da pessoa para entrar, como depende dela para sair. Nada é por acaso, ninguém se droga por se drogar ou, simplesmente, é viciado por terceiros. Na verdade, existe uma necessidade, um elemento instigador, no íntimo do ser humano que o estimula a buscar algo que abrande as suas dores. Logo, é importante identificar qual dor, a droga está anestesiando.

Assim, as drogas ao propiciarem satisfação imediatas, sem necessidade de autorreflexão, às pessoas, estão sendo consumidas cada vez mais. Em contrapartida, esse tipo de solução gera um custo vivencial muito alto. E isso nos obriga a fazer uma reflexão mais apurada sobre esse assunto.

Primeiramente, temos que analisar o psicológico das pessoas viciadas, o que está acontecendo com elas, como se dá a sua interação com a vida. Não há como aceitar o simplório entendimento de que a droga é, em si, a causadora das dependências. Se assim fosse, não haveria retorno ao vício, após a “cura”.

As drogas, na verdade, nos permitem alterar a consciência sobre a nossa realidade, nos consentindo amenizar ou criar novas realidades, embora momentâneas, daí a necessidade de se uso constante, para lidar ou fugir das situações que nos fazem sofrer, buscando, dessa maneira, dar alívios as nossas dores e angústias.

Com o olhar psicológico, o elemento instigador do vício é o desejo de lidar ou alterar a realidade em que se vive, que tanto nos sufoca e não a droga em si. Ela é um dos meios para aliviar ou alterar a realidade em que se vive e não a causa do vício. Essa aliança entre o desejo e a droga que produz o desejado é que dá o vício.

Logo, é importante destacar a necessidade de diferenciar “a cura orgânica da psicológica”. É preciso entender que o processo de “cura” envolve esses dois aspectos que, por sua vez, exigem procedimentos diferentes, pois produzem efeitos distintos.

No mundo orgânico, a palavra “cura” significa não ter mais a doença física. A ferida cicatrizou, a infecção deixou de existir etc. Enfim, a doença deixou de existir.

Já no mundo psicológico, a palavra “cura” denota que a pessoa superou o vício e deixou de pensar ou se comportar de determinada maneira, porém não significa que os arquivos de memória, relativos ao desequilíbrio psicológico que a levou a usar, foram apagados ou substituídos por novos. Eles continuam a existir, porém, adormecidos. E a qualquer momento poderão ser despertados, basta que a pessoa queira. Existe o livre arbítrio, ou seja, cada pessoa fará uso dos seus arquivos de memória de acordo com seus desejos e necessidades e lhes dará a importância que bem quiser.

Em relação às drogas, o prazer que as pessoas sentiram e sentem ao usá-las nunca será esquecido. Por isso, no mundo psicológico, não podemos usar a palavra “cura” como algo definitivo, já que a dependência psicológica está ligada a esses arquivos da memória que poderão ser reutilizados a hora que elas bem quiserem. Por isso, devemos pensar muito antes de experimentar qualquer droga. Iniciado o vício, não haverá nada que o apague de nossa mente. Será para sempre.

Logo o olhar da Ciência e da Medicina é apenas um pingo d’água no oceano. É preciso um novo olhar sobre o problema. Um olhar que tenha como prioridade a pessoa do drogado e suas carências e a sociedade como um todo. Não só as drogas e sua comercialização. Que a noção de “custo vivencial” seja implantada no processo educacional e sirva de orientadora no combate ao uso das drogas.

Para refletir:

A droga dá ou possibilita as pessoas a terem o que procuram?

Dependendo da resposta, nas nossas vidas só existirá um caminho para anestesiarmos os nossos sofrimentos.

A dependência química sobrepõe ao psicológico da pessoa, obrigando-a a usá-la, sem ela querer?

Outro ponto: Se a dependência é química por que será que as pessoas precisam fazer terapia?

Afinal é a droga ou o desejo de fugir da realidade que leva ao vício?

Autor: Cláudio de Oliveira Lima – Psicólogo – Idealizador e Especialista do Autogerenciamento Vivencial (AGV) e desenvolvedor de uma Psicologia com uma visão Quântica.