APOIO E O AUTOGERENCIAMENTO VIVENCIAL
15 de dezembro de 2020Vivemos ciclos de vida que priorizam a dependência, no mais abrangente sentido. Sem às vezes percebermos, fazemos o papel de marionetes, ou seja, de seres manipulados, e isso nos retira grande parte da responsabilidade que devemos ter com nossas próprias vidas.
Por ignorância ou comodismo, o homem contemporâneo vem aceitando que o mundo exterior, gerencie a sua vida através de regras, conceitos, leis etc., que dizem como deve agir, comportar, pensar e até de sentir; tudo isso faz com que ele acredite que as decisões certas são aquelas apresentadas a ele.
Essa atitude passiva inibe a capacidade de autoconsciência e de autorreflexão, com reflexos na autoestima, autoconfiança e autoaceitação. E o perigo disso é o esvaziamento, a apatia, o tédio, a vulnerabilidade, a insegurança, o medo etc., que crescem cada vez mais em nosso interior. Isso certamente desvirtuará o discernimento que cada um de nós deveria ter diante dos próprios atos, atitudes e comportamentos.
Precisamos aprender a lidar com as duas formas de apoio à nossa disposição. Cada uma delas tem suas características e funcionalidades.
O apoio externo, cultural ou social, tem duas características: a primeira se refere ao fornecimento de informações que nos orientam na forma de agir e viver as nossas realidades; a segunda à implantação de verdades preestabelecidas em nossas mentes; de pacotes de respostas cuja função é esclarecer as nossas dúvidas e atenuar nossos sofrimentos. Nos momentos de crise tais pacotes até que funcionam bem, produzem alívios; entretanto, com o passar do tempo, criam dependências, apegos, aprisionamentos. Passamos, então, a depender deles para agir e validar nossas ações. Cuidado com as palestras motivacionais.
Infelizmente, há pessoas que só buscam segurança no apoio externo: de um dogma, de um culto religioso, de uma imagem, de uma filosofia de vida, de uma promessa ou de uma verdade preestabelecida etc., para sustentá-las. Desconhecem ou não acreditam em sua própria força. Ao agirem assim, não fazem as reflexões necessárias para resolver seus problemas existenciais, porque esperam que o mundo externo preencha seu vazio, suas carências e suas necessidades ao ditarem o rumo da sua vida.
Esquecem elas que ao colocarem o mundo exterior na posição de único gestor de suas vidas, se tornam excessivamente dependentes das verdades e orientações determinadas por ele. Deixam de caminhar com as próprias mentes e assim limitam o seu crescimento como pessoa.
Entre os vários tipos de apoio externo, destacam-se o de aprovação e o de amparo/socorro.
Apoio de aprovação:
Existem pessoas que se sentem incapazes de tomar decisões. Estão sempre em busca de opiniões de terceiros. Têm medo de cometer erros. Preferem acreditar nas verdades dos outros a acreditar nas suas. Essas pessoas esquecem que elas próprias pagam pelos erros cometidos, devido as suas escolhas ou orientado por terceiros.
Apoio de amparo/socorro:
Há pessoas que só buscam apoio no mundo exterior, apegam-se a qualquer coisa que as aliviem de situações que lhe produzam tormentos e desequilíbrios. Não acreditam em sua força interior.
Pessoas assim geralmente apresentam uma lógica cognitivo-vivencial (psicológica) estruturada num discurso de vítima e de coitadinho. Em vez de superarem seus conflitos submetem-se a eles, fazendo uso de explicações dogmáticas e tratamentos medicamentosos.
Já o apoio pessoal ou autoapoio, caracteriza-se pela busca de respostas, através da autoconsciência e da autorreflexão; se baseia na liberdade de pensar e escolher. É a ferramenta que nos dá firmeza, ousadia e nos estimula a usar a nossa força interior. O mundo exterior perde a sua prioridade de ser o gestor das nossas vidas, e passa a ser visto como banco de dados, onde cada um de nós, busca e seleciona as informações que lhe permitam o seu desenvolvimento mental e psicológico.
Ciclo da dependência:
O que o centro de apoio faz é “impedir” que a força prejudicial se revele no seu domínio. No caso de uso de medicamentos, por exemplo, há uma inibição do seu efeito. Enquanto a pessoa estiver no centro de apoio, dor, tensão etc. serão aliviadas. Ao se afastar dele, entretanto, o alívio cessará. Isto porque a solução do problema não foi feita com o auxílio da autoconsciência e autorreflexão: a força conflitiva se reativará dentro dela. Por pertencer ao centro de apoio e não à pessoa, a força transformadora só produz benefícios enquanto ela estiver sob a sua proteção, criando assim um ciclo de dependência e carência.
Não se deve olhar a própria vida com os olhos dos outros, mas com os próprios olhos; não podemos ignorar a importância do apoio externo; porém, transformá-lo no único gestor das nossas vidas é perder o controle sobre ela.
Quanto mais cedo aprendermos a diferenciar as duas formas de apoio, melhor. Isso nos dará a consciência de que temos que fazer alguma coisa por nós mesmos; nós é que temos que ser os gestores de nossas vidas, nós é que temos que agir em benefício de nosso bem-estar.
A sabedoria se manifesta e se amplia através de atos de reflexão. Só assim saberemos enfrentar os desafios da vida de maneira inteligente e responsável.
Cuidado! Ao passar a vida inteira responsabilizando o meio externo pelos erros cometidos, demoramos mais para amadurecer. Precisamos ter consciência de que ao nos acomodarmos ao papel de vítimas, não evitaremos o “acerto de contas”; cedo ou tarde teremos que enfrentar as consequências do nosso modo imaturo de agir. Feliz ou infelizmente, a vida não alivia a punição e não premia quem se faz de vítima. Somente com uma mente ativa, reflexiva e consciente do seu papel no mundo, é possível viver uma vida com qualidade, sem medo.
Autor: Cláudio de Oliveira Lima – Psicólogo – Idealizador e Especialista do Autogerenciamento Vivencial (AGV) e desenvolvedor de uma Psicologia com uma visão Quântica.