ARREPENDIMENTO E O AUTOGERENCIAMENTO VIVENCIAL
4 de janeiro de 2021Percebendo o arrependimento, não só com a compreensão da busca do perdão, mas também, como uns dos motivadores da nossa autotransformação. Nesse aspecto, nos abre os olhos em relação as nossas atitudes inadequadas, diante do que nos acontece. Envolve o nosso crescimento pessoal.
Nessa visão, o arrependimento nos desperta um olhar crítico sobre as nossas ações, nos incentivando a ter atitudes contrárias àquelas que foram inadequadas.
Infelizmente, existem pessoas fora do contexto das doenças psiquiátricas, que não conseguem sobrepor os seus desacertos e continuam a se machucar com eles, até o final das suas vidas.
Embora percebam o mal que estão fazendo a si, não se sentem dignas ou capazes do autoperdão, carecendo de alguém ou algo que os dê. Vivem à procura do perdão. O seu arrependimento só será alcançado se conquistar o perdão. Só assim se alforriarão do sentimento de culpa.
O arrependimento, não é visto como uma ferramenta de autotransformação, de mudanças e de crescimento e sim para expurgar o que as atormentas.
Embora em ambos os casos (do autoperdão, ser perdoado), seja necessária “a admissão do erro”, há neles, caminhos diferentes.
Analisando-o, nesse momento, com o olhar de “autotransformação”, o arrependimento pode ser apreendido, segundo o AGV, de duas maneiras: em relação ao “tempo vivencial” e ao “tempo psicológico”.
Em relação ao tempo vivencial:
Como o tempo vivencial só é composto pelo “presente”, nesse caso, não há como concertar o que foi feito, pois nele, não existe passado e nem futuro. Nesse caso, não haverá a possibilidade de corrigi-lo. É um ato completo em si. O que se poderá fazer é não o cometer novamente.
Como só tem presente, a vida atual tem que valer a pena. Logo, o que se fez está feito e o que se perdeu está perdido. Nem com arrependimento é possível mudar o que foi feito.
O tempo vivencial nos desperta a compreensão, que o poder de arrependimento está em nós e só se revela no momento presente e não no pensamento, no desejo, no pedido de perdão.
Para ele, a autotransformação só ocorre, com o nosso posicionamento diferente, diante daquilo que nos está acontecendo, seja de experiência já vivida ou não. Não é necessário que haja ressignificação do vivido e nem projetar para o futuro e sim, criar outras soluções, no momento em que está acontecendo. Não há como transferir o nosso bem estar para outro momento, para outra vida.
Aqui, não existe arrependimento com ‘sentido de desculpa”. Ele é visto como elemento instigador das nossas autotransformações. Serve de parâmetro para o nosso processo de autoconscientização e autotransformação.
Processo esse, que nos permitirá, em alguns casos, até realizar o mesmo ato, mas jamais será realizado da mesma maneira. É uma forma de auto arrependimento, onde me corrijo a mim mesmo. Preciso sim, do meu amor por mim, para me dar o perdão.
Não podemos esquecer que: “o nosso tempo de vida se desgasta a cada presente e não espera por ninguém, nem por nada”.
Nele, a “autoconsciência e autorreflexão” são as principais ferramentas que nos permitirão o ajuste correto entre o que foi feito e o que iremos fazer.
Já, em relação ao tempo psicológico
Como ele é composto por “passado, presente e futuro”, nos permite entrelaçar esses tempos, criando uma teia de justificativas e explicações para as nossas atitudes e comportamentos, tornando o processo de autotransformação mais complexo porque não depende só de nós, envolve outro e seu perdão.
Nesse olhar, somos seres incapazes de nos mudarmos, de corrigir os nossos erros, por nós mesmos. Somos, na verdade, eternos incapazes de, por si só, nos perdoarmos e mudarmos a nossa lógica de vida. É fundamental que o outro nos perdoem primeiro.
Precisamos do outro, da sociedade e da religião para expurgarmos os nossos erros vivenciais e encontrarmos os nossos perdões. Não basta somente o nosso arrependimento para alcançarmos, o tão desejado perdão, é preciso que se aceite as regras preestabelecidas por eles.
É importante destacar, que há pessoas, que acham, que ao pedir perdão ao outro, já fez a sua parte. Para ela, o fato de ter admitido o seu erro e se arrependido, já é uma “solução”, embora a situação não tenha sido resolvida. Deveras interessante!
Infelizmente, nesse processo de autocorreção, nos colocamos em segundo plano, já que temos a nossa disposição nossas justificativas, a sociedade, o outro e a religião para nos perdoarem dos nossos desacertos vivenciais.
Em termo de “autotransformação”, acaba gerando um culto a “irresponsabilidade vivencial”, pois, cada atitude, cada comportamento terá a sua disposição um mundo de explicações e justificativas e de perdões a nossa disposição.
Um outro ponto interessante: a vida atual, aqui, não precisa valer a pena, já que há outra vida que nos espera, que será infinitamente melhor, viver no paraíso. Para que isso aconteça, basta sermos aceitos por Deus. Então, para que nos esforcemos para ter uma vida melhor. A vida atual terá, para nós, o valor de um dólar furado.
Só de curiosidade. Se não houvesse perdão e fossemos eternos culpados pelo que fizermos, como seria a nossa relação conosco, com o outro, com a sociedade, com a religião e principalmente com o nosso viver no paraíso?
Enfim!!! Como vivemos nesses dois mundos (vivencial e psicológico) compete a cada um de nós buscar as razões que nos permitam libertar desse aprisionamento “do mundo do arrependimento”.
Cuidado com a forma de retroalimentação psicológica que escolher para se arrepender.
O Autogerenciamento Vivencial é um grande aliado nessa empreitada, pois desperta, em nós, a autoconsciência de como é importante a nossa participação na construção do nosso arrependimento.
Para melhor entendimento do artigo, é recomendada a leitura do livro Autogerenciamento Vivencial – o cuidar de si, disponível na versão digital pela www.simplíssimo.
Autor: Cláudio de Oliveira Lima – Psicólogo – Idealizador e Especialista do Autogerenciamento Vivencial (AGV) e desenvolvedor de uma Psicologia com uma visão Quântica.