O PODER DA IMAGINAÇÃO E O AUTOGERENCIAMENTO VIVENCIAL
18 de março de 2021O percebido é o modo como percebemos.
A percepção e sua interpretação e a construção das nossas lógicas e realidades psicológicas são realizadas pelo sistema mente e cérebro. A imaginação está inserida nesse sistema, por isso, quando a atuação dela se torna preponderante, corremos o risco de falsear aspectos da realidade e torná-los parte de nossas verdades. Essas falsas verdades nos orientarão nesse caminhar psicológico pela vida.
Nesse entender, a realidade psicológica que vivemos é composta de um conjunto de pensamentos, construídos por nós, que expressam nossos desejos, nossas imaginações, nossas crenças etc. Ela é produto desses fatores.
O elemento instigador que irá prevalecer nessa ou naquela lógica psicológica, será aquele destacado por nós. Nesse olhar, as nossas realidades psicológicas, são vulneráveis as nossas percepções, interpretações e as suas lógicas psicológicas.
É importante não esquecer que as escolhas dos elementos instigadores reais ou irreais que irão compor a nossa realidade psicológica, são orientadas por sentimentos de gratificações, construídos por nós. Eles refletem o que desejamos para nós: autossofrimento, revolta etc.
Nada no mundo psicológico é por acaso ou inconsciente ou determinado pelo nosso emocional. Todo ato tem o impulso daquilo que foi pensado, com a ajuda da memória e organizado pela consciência. Todas as dimensões perceptivas, reais ou irreais, nesse sentido, são legítimas para nós. Toda as lógicas psicológicas são verdadeiras para quem as criou, não importa de onde ela se originou.
Logo, o grande perigo em viajar pelo mundo da imaginação é transformar falsos acontecimentos em verdadeiros e vivermos em função deles, como também, alterar os acontecimentos, ao nosso bel prazer ou levados por dificuldades em resolvê-los, criando assim, realidades divergentes, vivendo em função delas.
O grande desafio vivencial é que podemos viver toda a nossa vida, em acordo com aquilo que imaginamos. Nesse caso, é função do terapeuta dar consciência ao analisado para que compreenda essas dificuldades criadas pela sua imaginação e sobrepô-las.
Não há como ignorar, que elas são verdadeiras para quem as criou. Não existe dúvida sobre elas para ele. Tais realidades psicológicas atuam do mesmo jeito que os acontecimentos reais, produzindo os mesmos efeitos psicológicos, com repercussão no corpo físico, energético e psicológico.
Nesse sentido, é importante termos a consciência, que a nossa vida psicológica, não existe apenas com acontecimentos reais. Não precisamos só de acontecimentos reais para vivenciar uma dor, um sofrimento, um conflito, um sonho, um prazer. Nossa imaginação é capaz de proporcionar o que desejamos.
Logo, não há como negar que o pensamento é ativo e criador e nos dá a consciência do que queremos para nós. É através do ato do pensar que nós damos vida aos seus conteúdos e elaboramos, através deles, nossas percepções e interpretações e suas lógicas psicológicas que nos guiarão em relação a eles. Como foi dito, nada é por acaso ou inconsciente e nem emocional e sim consciente, lógico e psicológico.
Para o pensamento cunhar realidades psicológicas reais ou fictícias, basta criarmos percepções e elementos instigadores e suas lógicas psicológicas adequadas ao desejado. Fiquemos atento a isso.
O grande perigo do “jogo da imaginação” é a falta de discernimento em que podemos incorrer em determinados momentos, ao deixarmos ser levados por mágoas, decepções, frustrações ou maus tratos e desrespeitos vividos no passado.
Desse pensar inadequado, surgem raciocínios e lógicas psicológicas que podem atrapalhar a nossa mente em discernir entre o imaginado e o real e vice-versa. Quando isso acontece, ocorre o aprisionamento do criador às suas fantasias e ilusões.
Não há como negar a nossa responsabilidade por aquilo que imaginamos. As fantasias e ilusões são escolhidas, apreendidas, assimiladas, interiorizadas, conforme o valor e o sentido que lhes damos. Como as queremos perceber.
Como também, não há como ignorar, que processo de imaginar é ativo e criador, portanto, é poderoso. É um dos arquitetos da nossa realidade psicológica, ao criar motivos que reforçam a realização dos nossos desejos. Quando temos um desejo, temos desejo de alguma coisa: a imaginação nos motiva, ao criar fantasias sobre o objeto do desejo, sobre o que ele pode nos proporcionar. O que nos leva a concluir que o imaginado e o desejo estão arraigados. Um é consequência do outro. Assim como a imaginação nos leva ao desejo; o desejo nos leva à imaginação. Assim podemos entender que ambos fabricam realidades.
Afirmar que as pessoas não têm responsabilidade por aquilo que a sua imaginação produz; que foi uma força externa ou algo escondido dentro delas que esperou a ocasião certa para se manifestarem, sem dúvida, é tapar o sol com uma peneira.
Cuidado! As ilusões e fantasias são compostas de elevado potencial de ação e, ao serem incorporadas à lógica psicológica que nos conduz, reproduzirão também efeitos psicológicos e físicos.
Lembremo-nos dos versos de Chico Buarque: “E se de repente a gente não sentisse a dor que a gente finge e sente”.
É importante ressaltar que devemos excluir da nossa análise as alterações psicofisiológicas. Aquelas formadas pelo desequilíbrio na produção de enzimas e hormônios, ou pela ingestão de substâncias químicas tais como o álcool, drogas e remédios, que produzem no organismo certas alterações psíquicas, como depressão, fobias, alucinações. Tais distúrbios psíquicos caracterizam sintomas de origem orgânica ou química e não de origem psíquica. Quanto mais cedo houver tratamento do corpo e sua desintoxicação, mais rapidamente os sintomas desaparecerão.
Já no entender psicológico, a estrutura é física e química, mas o processo é psicológico. O ato de pensar é que tem a capacidade de criar e nos autossugestionar.
Logo, é importante estar atento aos nossos desejos, uma vez que, com o auxílio da imaginação, qualquer pessoa pode transmutar a própria mente no que ele quiser. Sendo assim, ela poderá se tornar qualquer coisa, já que tudo é possível, tudo é permitido.
É importante ressaltar que no mundo da imaginação não há limite, barreira, ética, moral, religiosidade e, bem como não existe culpa, nem julgamento.
Entendido assim, com o auxílio da imaginação, qualquer pessoa pode transmutar a própria mente no que ele quiser. Ela poderá se tornar qualquer coisa. Aí e que mora o perigo.
Fiquemos atento! Antes de nos tornarmos sofredor, rejeitado ou qualquer outra coisa, treinamos, bastante, para tornarmos objeto dos nossos desejos. Nada é por acaso ou “inconscientemente” ou emocional. No decorrer da vida, vamos construindo e dando vida aos personagens que desejamos ser, uns adequados outros não.
Nesse processo de ser ou não ser, após construída a lógica psicológica, cada um de nós viverá em função daquilo que foi construído pelos nossos pensamentos e armazenados em nossas memórias. A partir daí, teremos as respostas e as justificativas necessárias para o modo que escolhemos ser. É nesse momento que o terapeuta será desafiado nos seus conhecimentos.
Prestaram a atenção?! O que foi construído e memorizado, ao serem usados, só os fortalecemos. Infelizmente, atitudes e comportamentos já fixados na memória prevalecem sobre os novos. Por isso, é difícil realizar mudanças imediatas e definitivas em nossa maneira de ser.
Para que algo novo atue em nossa mente, em nossa memória, é necessário reforçá-lo cada vez mais até que se consolide e integre em nós mesmos. Sem uma consciência ativa e reflexiva não há como transformar a nossa vida psicológica.
É fundamental para o nosso bem viver, que percebamos os momentos em que estamos nos desviando do mundo real para o mundo da fantasia. A autoconsciência e a autorreflexão são as ferramentas adequadas para o gerenciamento eficiente dessas imagens idealizadas por nós. Imagens essas com as quais estruturaremos os nossos pensamentos, atitudes e comportamentos. Elas também determinam as metas a serem atingidas. Na pessoa normal, as imagens idealizadas estão próximas da realidade e são flexíveis; no neurótico, são irrealistas e inflexíveis, já no psicótico, sem nenhum autogerenciamento, acaba se convertendo em suas imagens idealizadas.
Com os arquivos de memórias, produzidos durante cada fase do autoconhecimento, será possível controlar a imaginação, o que evitará uma vida ilusória e falsificada e quando ocorrer, nos permite superá-la imediatamente para que não criem raízes profundas em nossas mentes.
Felizmente, a nossa lógica psicológica (cognitiva-vivencial) depende inteiramente do tipo de alimento mental que a nutre. Ao modificar o nosso pensar, a nossa vida psicológica se modifica ou para melhor ou pior.
Veja que interessante! Para termos o autoconhecimento não é essencial retroceder no tempo, nem dar tempo ao tempo, nem nos isolarmos do mundo, nem cometermos erros. Precisamos, apenas, tomar consciência das nossas atitudes e comportamentos atuais e verificar qual o tipo de percepção (real ou imaginária) está formando a nossa lógica psicológica e se são adequadas ou não.
Lamentavelmente, existem pessoas que apenas buscam na terapia meios de encontrar explicações ou justificativas para as suas vidas, não almejam o autoconhecimento e a autotransformação. Elas procuram somente consolo, colo, não as verdades que tecem o que sentem. Esquecem que ao Ignorar ou justificar as realidades que a fazem sofrer, não significa que se libertaram delas. Apenas houve acomodação a elas.
Como vimos, as nossas mudanças psicológicas se encontram sob o judice do nosso querer, acreditar e agir, da nossa multiplicidade psicológica e plasticidade vivencial e da transitoriedade das nossas percepções e interpretações psicológicas. São elas que nos permitem mudar o olhar sobre as nossas vidas. Ao agregarmos novos elementos instigadores em nossos pensamentos outras vidas serão vividas.
Para refletir: Evoluir é superar os conflitos, traumas, decepções e frustrações etc., considerando-os como aspectos passageiros de uma história de vida e não como aspectos imutáveis da vida.
Autor: Cláudio de Oliveira Lima – Psicólogo – Idealizador e Especialista do Autogerenciamento Vivencial (AGV) e desenvolvedor de uma Psicologia com uma visão Quântica.