O HOMEM SOCIAL E O AUTOGERENCIAMENTO VIVENCIAL

O HOMEM SOCIAL E O AUTOGERENCIAMENTO VIVENCIAL

23 de abril de 2020 Off Por Claudio Lima

A vida humana caracteriza-se por um contínuo processo de socialização, que se estende do nascimento à velhice. Durante a nossa existência, nos vemos sempre em conflitos, ora com a sociedade, ora com nós mesmos. E assim, grande parte do nosso tempo é consumida por uma busca constante de soluções e saídas.

Nosso ajustamento à sociedade depende de uma adaptação que compreende três aspectos: psicológico, individual e social.

O aspecto psicológico se caracteriza pelo desenvolvimento de nossas potencialidades, autoconfiança, autoaceitação e autoestima. Num sentido mais abrangente, pelo desenvolvimento de nossa maturidade intrapessoal ou psicológica.

O aspecto individual se desenvolve de forma construtiva à medida que vai ocorrendo à anulação da nossa parte animal, dos nossos instintos, do nosso egocentrismo.

Já o aspecto social é o resultado de uma educação coletiva que recebemos em nosso convívio social. Ela tem o objetivo de afirmar e reafirmar que não há espaço para o homem integralmente individual. Prioriza a “homogeneização” do pensamento, do comportamento e das necessidades; embota assim grande parte da capacidade desse aspecto individual do ser humano. Aos poucos, deixamos de ser exclusivamente individuais para nos tornarmos racionalmente sociais.

O mundo atual dá prioridade ao social em detrimento do individual. Sufoca o ser individual e valoriza ao extremo o ser social, como se, na formação da pessoa, não houvesse a possibilidade de harmonização desses dois aspectos.

Para que exista essa harmonização, a educação deve não só cuidar do aprimoramento da vida social, mas também fornecer meios a cada indivíduo a fim de que ele possa se desenvolver como ser único, dando-lhe mais liberdade para ser. Transferir para cada pessoa grande parte da responsabilidade pela própria vida deve ser também um fundamento existencial.

Como primeira medida, é preciso colocar de lado a ferramenta antiga e ainda usada: a punição. Em vez disso, ressaltar a responsabilidade que cada ser humano deve ter em relação a si mesmo e ao outro. A qualidade de uma sociedade depende, sobretudo, do modo como cada um de nós atua nela. É importante afastar definitivamente o raciocínio cujo teor afirma que, somente com o emprego do controle, das leis e da punição, é possível desenvolver o senso de responsabilidade, elemento significativo para a melhoria da qualidade de vida.

De posse desses novos valores, as pessoas, aos poucos, vão se tornando agentes transformadores, deixando de lado a passividade que muito prejudica não só a elas como a própria sociedade. Com essa nova postura, será possível construir um mundo melhor, um mundo em que cada ser humano procura fazer o melhor não só para si como para o outro.

Abrindo um parêntese, é importante fazer uma análise com mais detalhes sobre o mundo em que vivemos e a importância da sociedade nas nossas vidas.

Cada sociedade, da mais primitiva a mais complexa, estabelece, exige e controla através de regras diretas ou indiretas o cumprimento de suas exigências que são transmitidas pelo sistema educacional.

Através dele, ela controla e determina o grau de importância das informações e as que poderão ser passadas para as pessoas. A informação exerce um controle mental sobre as pessoas. Em função dela, aprisiona a nossa consciência aos seus valores, corroendo a nossa autoconsciência e autorreflexão e nos levando a acreditar nessa falsa realidade. Em outras palavras, determina quais os requisitos fundamentais para o homem social, tanto os comportamentais como os de pensamentos, criando, assim, um homem social que pensa como ela deseja que ele pense. Os objetivos, desejos, vontades e valores são encaixados em certos limites. As necessidades deixam de ser individuais para serem sociais. Assim, o ser humano é delimitado pelas regras sociais, entorpecendo grande parte do pensamento autoconsciente – autorreflexivo, em função de um pensamento técnico, único, gestor do meu, do seu e do nosso pensar.

As regras sociais, além de organizar o convívio social e de estruturar os valores e conceitos de família, também atendem aos interesses do sistema dominante. Aí é que está o perigo. Como a sociedade está voltada menos para o ser humano e mais para o aspecto econômico e seus interesses, direciona a educação, prioritariamente, para formar pessoas com objetivos de vida, a produção, consumo e conquistas de bens. Nos ensina a ignorar a nossa parte humana e o sofrimento do outro.

Melhor dizendo, doutrinam a mente das pessoas para que acreditem que lutar pelas suas conquistas materiais e sociais são os seus principais objetivos nessa vida, mesmo que tenham que se utilizar dos outros para atingi-los. Ser desumano passa a ser uma qualidade.

De olho no ganho de capital, no lucro, o homem capitalista sobreponhe a sua dignidade, a sua moral o seu caráter, a sua honestidade em função dele.

Assim, são formados seres humanos que não conseguem refletir sobre a própria vida e estabelecer limites para esse sistema social que tudo pode. São incapazes de oferecer resistência aos interesses de quem detém o poder, de quem representa o domínio.

Interessante!

Mas, se por acaso, houver alguma ideia ou atitude que interfira nos propósitos estabelecidos, cria-se logo uma lei, que evitará algum efeito, capaz de dar algum prejuízo ao sistema dominante. Isso apenas nos mostra que os interesses econômicos estão acima dos indivíduos, da natureza e até mesmo da própria vida. A vida, nos dias de hoje, é mais do que nunca algo calculado.

Afinal, qual é o ideal de vida nos dias atuais?

Afinal quem estabelece as regras, os interesses sociais, os valores sociais, enfim, a dinâmica de uma sociedade?

As mudanças contemporâneas estão mais preocupadas com lucro de capital do que com ganhos humanos. Estamos, na verdade, vivenciando um processo que desumaniza o nosso ser. O legal e o ilegal, o justo e injusto, são constituídos através de leis de cunho políticos e econômicos, aos interesses de alguns e não social e humano.

A espécie humana tornou-se um joguete do sistema que ela mesma criou e mantém. O que estiver fora do padrão é inútil e será excluído socialmente ou, como nos mostra a história, em alguns casos, perderá a vida para o bem da sociedade e dos interesses econômicos.

Infelizmente, os valores econômicos tornaram-se os principais referenciais usados para avaliar uma pessoa, uma família, uma sociedade, ou mesmo um país. Uma pessoa é vencedora, uma família é importante, uma sociedade é evoluída, um país é desenvolvido de acordo com as condições econômicas em que se encontram. E nessa busca frenética por riquezas materiais, o ser humano não só destrói a natureza da qual é parte como também se esquece de que há algo dentro de si que se sobrepõe à matéria, algo que é a essência do seu ser. Sua verdadeira identidade é anulada; em troca lhe são impostas outras identidades, e isso aniquila importantes forças da sua formação como cidadão, tais como a valorização das “intra e inter” relações pessoais, o respeito à diversidade e a capacidade de caminhar usando as próprias ideias.

Reflitamos! De fato, a sociedade é uma criação do homem. Portanto, ela terá a forma que a mente humana quiser. O que nos leva a concluir que a formulação e reformulação de conceitos; a interpretação de comportamentos e atitudes; a idealização da felicidade; o estabelecimento de novas regras; tudo isso dependerá, sobretudo, da mentalidade desse novo homem social. O nosso mundo é resultado daquilo que somos. Como ele será daqui a milhares de anos?

Autor: Cláudio de Oliveira Lima – Psicólogo – Idealizador e Especialista do Autogerenciamento Vivencial (AGV) e desenvolvedor de uma Psicologia com uma visão Quântica.